segunda-feira, 21 de abril de 2008

As jovens Promessas da medicina


As jovens Promessas da medicina
Por: Greice Rodrigues
ISTOÉ de 16-04-08

Eles são jovens, inteligentes e muito competentes. Fazem parte de uma nova geração de profissionais que, apesar da pouca idade, já se destaca no meio científico com trabalhos e atuações importantes nas áreas da oncologia, cardiologia, pneumologia e diabete.

São autores de pesquisas que têm ajudado a ciência a entender, por exemplo, mecanismos sobre o desenvolvimento de doenças como o câncer de boca e processos inflamatórios. Está se falando aqui de brasileiros que são as jovens promessas da medicina. Uma das representantes desse grupo é a biomédica paulista Juliana Monte Real, 24 anos. No ano passado, ela foi premiada no Congresso Europeu de Doenças Respiratórias por ter identificado o papel de uma proteína presente em lesões pulmonares causadas pela necessidade de ventilação mecânica – procedimento para ajudar na respiração de pacientes graves. Em trabalhos com camundongos, Juliana descobriu que a substância tem papel importante no agravamento da inflamação decorrente dessa forma de ventilação. O próximo passo é confirmar esses achados em humanos. "Se confirmado, poderá abrir caminhos para a criação de estratégias terapêuticas que inibam a ação dessa proteína", diz ela. O estudo foi orientado, em São Paulo, pela bióloga Adriana Abalen e pelo pneumologista Daniel Deheinzelin, do Hospital A. C. Camargo, especializado em câncer.Outro pesquisador que vem ganhando destaque é o médico Silvio Reggi, 30 anos, de São Paulo. Ele é o responsável pela adaptação para o Brasil de um questionário da Associação Americana de Diabete para identificar pessoas com propensão a desenvolver a doença. Após responder aos questionários (que classificavam os riscos a partir de uma pontuação), os voluntários faziam exames de sangue. "O estudo mostrou que as pessoas que tiveram alteração em seus exames eram aquelas que haviam atingido uma pontuação de risco", diz Reggi. O trabalho do médico foi premiado no Brasil e está em estudo para ser incorporado como um método de diagnóstico precoce da enfermidade. Reggi coordenará, agora, o ambulatório de doenças coronárias em pacientes diabéticos no Hospital São Paulo.Como esses talentos são descobertos? De acordo com a pesquisadora Maria Angélica Miglino, coordenadora do Programa de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo, boa parte das universidades brasileiras coloca o universitário em contato com o universo científico. Um desses programas é o de Iniciação Científica, feito em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq). "Todos os estudantes têm contato com esse ambiente de pesquisa, mas só alguns vão além. Nosso papel é descobrir e direcionar esses talentos, oferecendo suporte para que sejam excelentes cientistas", diz Maria Angélica.Os responsáveis pelos programas logo reconhecem quem tem paixão pela ciência. É o caso da cirurgiã-dentista mineira Cláudia Maria Pereira, 36 anos. Ela é autora de um importante estudo que identificou genes envolvidos no surgimento de câncer de boca. "Esse achado pode auxiliar na compreensão dos eventos envolvidos na progressão dessa doença", diz Cláudia. A conclusão desse trabalho rendeu à pesquisadora o primeiro lugar no First International Academy of Oral Oncology, em Amsterdã, na Holanda.O CNPq também criou um programa para financiar pesquisadores que estão iniciando a carreira científica. "É mais uma oportunidade para revelar novos talentos", diz Marco Antônio Zago, presidente da entidade. Potenciais como o médico Alexandre Siciliano, 34 anos, que, apesar da pouca idade, coordena dois importantes centros no Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro: o da cirurgia cardíaca e o de transplante. A formação, concluída no Cleverland Clinic Foundation, nos EUA, o ajudou a se tornar uma referência na área. O jovem médico também se ocupa de outras atividades. Uma delas é a pesquisa que avalia os benefícios da videotoracoscopia, uma nova técnica cirúrgica pouco invasiva indicada para tratar arritmia. "Estou avaliando o impacto desse novo procedimento na qualidade de vida do paciente".

Comentários:

A autora deu ênfase a esta matéria no intuito de que é “melhor prevenir do que remediar”; o que na verdade, quando a doença atinge um grau mais avançado, mais difícil se torna a cura ou um tratamento paliativo, o que não deixa de ser muito oneroso para os cofres públicos.
Pesquisas demandam tempo, dedicação e dinheiro. Porém o Estado só consegue enxergar o presente e, não os benefícios futuros; estes que também reduzem as onerosidades e principalmente salvarão muitas vidas.
O curso de Medicina da UFJF poderia seguir os passos do curso de Odontologia, que teve muitos investimentos nos últimos anos. O HU é excelente, os acadêmicos muito dedicados e, muitos deles ao extremo, mas o Governo não investe em equipamentos nem em pesquisas e, por mais que acadêmicos e residentes queiram alcançar importantes objetivos para os diagnósticos, falta celeridade. Mesmo assim, estes profissionais estão de parabéns!...


Procura-se: mão-de-obra qualificada para construir o País


Revista Época - Procura-se: mão-de-obra qualificada para construir o País
( 14/04/2008)
Alexandre Mansur e Peter Moon

Houve um tempo em que o maior desafio do Brasil era acabar com a inflação. Quando ela finalmente foi derrotada, o desafio seguinte tornou-se reencontrar a via do crescimento econômico, único meio para começar o resgate da dívida social do país. Agora que o Brasil está crescendo, a questão crucial é garantir que seja um crescimento de longo prazo. É preciso atacar os fatores que atravancam a atividade econômica, como as deficiências em infra-estrutura que ocasionaram o apagão energético em 2001 e o apagão aéreo de 2007. Mas nenhum problema é mais premente que o apagão da mão-de-obra. Tome-se o exemplo da Petrobras, a maior empresa do país. O maior gargalo para seu crescimento não é falta de matéria-prima nem de investimentos. "O principal obstáculo para nosso desenvolvimento é a falta de jovens talentos", afirma José Sérgio Gabrielli, presidente da empresa. Segundo Gabrielli, a Petrobras e seus fornecedores terão dificuldade para preencher 73 mil postos até o ano que vem. São vagas em 722 especialidades, entre nível técnico e de formação superior. "O apagão de mão-de-obra é evidente", diz Francisco Ramirez, diretor da empresa de recrutamento de executivos ARC e professor do Ibmec-SP. "Tenho dificuldades de contratar profissionais para vagas em engenharia, tecnologia da informação, agroindústria, em várias áreas cruciais para o desenvolvimento do país."
Os números do Ministério da Educação explicam essa dificuldade. Cerca de 35 milhões de crianças e adolescentes passaram pelo ensino elementar na última década. Entre os que cursam o ensino médio, o número cai para 9 milhões. Os 25 milhões que ficaram para trás são muitas vezes analfabetos funcionais. Num mundo informatizado, mecanizado, em que as tarefas simples são feitas por máquinas, suas oportunidades de trabalho diminuem. Eis a receita de pobreza e dependência de programas sociais. Só o Bolsa-Família atende hoje mais de 10 milhões de famílias.
Por isso, a educação é nosso maior desafio. É ela que vai definir nosso sucesso nos próximos anos. E é a tarefa mais árdua e demorada de cumprir. Basta fazer as contas. Uma estrada ou uma nova linha do metrô levam quatro anos para ser construídas. Uma usina hidrelétrica requer dez anos, do projeto até a geração de energia. "Um ser humano não leva menos que 25 anos para ser formado", diz Ramirez. Nesta edição de ÉPOCA Debate, apresentamos um diagnóstico dos principais problemas da educação brasileira e apontamos caminhos para sua solução.
"Um ser humano leva 25 anos para ser formado"
A julgar pelos dados do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o desafio é enorme. Entre os alunos de 15 anos dos 57 países aferidos pelo teste, os brasileiros jamais saíram da lanterninha, em quesitos como leitura e matemática, desde 1997. Tem sido difícil melhorar o desempenho porque os problemas da educação brasileira estão ligados ao nível mais básico possível: ler, escrever e as quatro operações. Investir no ensino fundamental é imprescindível para que o Brasil esteja no mesmo patamar dos países desenvolvidos, daqui a um quarto de século. Essa é a tarefa essencial. Mas não pode ser a única: o país não pode parar à espera dos profissionais de 2033. É preciso treinar já os jovens com formação deficiente que chegam ao mercado de trabalho. E adequar a formação profissional às necessidades da sociedade. Um modo de verificar o nível de desenvolvimento futuro de um país é olhar o número de engenheiros e cientistas que se formam nas universidades, em relação ao total de alunos que concluem cursos de faculdade. Nesse quesito, quem sai na frente são a China e a Coréia, com uma taxa em torno de 40% e 30%, respectivamente, de acordo com um estudo da OCDE. Os dois tigres asiáticos ganham dos Estados Unidos (25%). E deixam o Brasil muito para trás. Aqui, os universitários que se dedicam à engenharia ou a carreiras científicas são apenas 12% do total. Outro dado que indica quanto um país está preparado para o futuro é o número de pesquisadores em atividade. No Brasil existe apenas um cientista para cada grupo de mil trabalhadores. Na China, são dois. Nas nações da União Européia, seis. Nos EUA, dez. E no Japão, 12.
A falta de mão-de-obra especializada não é um gargalo só para a expansão dos negócios no país. Os brasileiros também deixam de competir pelas oportunidades lá fora. "Estamos perdendo a chance de disputar com a Índia uma fatia maior do mercado de serviços de informática", afirma Jair Ribeiro, presidente da CPM Braxis, uma empresa especializada em prestar serviços de tecnologia para outras. Grandes companhias no mundo todo vêm entregando partes de seu sistema para ser administradas de outros lugares do mundo, um fenômeno chamado de offshoring (exportação de serviços). "Esse é um mercado de US$ 50 bilhões, que cresce 40% ao ano e atingirá os US$ 300 bilhões."
Mais uma vez, o que falta ao Brasil para avançar nessa área não são equipamentos, como mostra o ranking tecnológico global divulgado na quarta-feira passada pelo Fórum Econômico Mundial. Estamos na 59ª colocação, logo atrás do México e bem atrás do Chile (34ª), entre os latino-americanos. A lista é encabeçada por Dinamarca, Suécia e Suíça. De acordo com a pesquisa, o país não sobe de posição por causa da péssima qualidade educacional. De todas as soluções para melhorar o ensino, a mais urgente e eficaz é investir na melhora dos professores, como conta a próxima reportagem.

Comentários:

Alexandre Mansur e Peter Moon expõem de forma simples os acontecimentos relacionados ao desenvolvimento do País e, ultimamente estão levando a nossa Educação a um novo redirecionamento. A sociedade está em constante transformação e novas oportunidades de emprego estão surgindo; mas nossas Universidades ainda não atentaram para esta renovação. Continuam com cursos obsoletos onde o mercado de trabalho já está saturado e, quando ainda não o está, os estudantes estão mal preparados. O que faz uma boa Entidade de Ensino? Transforma suas salas de aulas em verdadeiros laboratórios e simuladores, coisa de filme de ficção científica... Na verdade, precisa-se conhecer o passado para fabricar o presente e programar o futuro. Educação: eficiência e eficácia. O que faz um bom professor? Talento, vocação, remuneração, inovação...saber tirar do nada, alguma coisa. O que faz das políticas públicas uma responsabilidade social? Ética e vergonha na cara...Atuação com mãos-de-ferro do judiciário e das nossas legislações que embora promovam sanções, sempre escapam ilesos os que desviam verbas públicas para os seus bolsos e projetos que não mudam em nada a inércia do nosso ensino. O que os autores quiseram nos mostrar? As mudanças vêm de dentro para fora. Se os instruídos não são capazes de nos guiar porque também aderiram à esta inércia, cabe a nós mesmos buscar esta transformação.